sábado, 5 de dezembro de 2020

260 dias desde o início do isolamento

 Bom, à essa altura já não estamos mais em isolamento. Os últimos meses realmente existiram ou foi um delírio coletivo? A pandemia não acabou, muito pelo contrário, mas muitas coisas já voltaram a acontecer como se nunca um dia algo tivesse saído do lugar – ou ainda permaneça fora de lá. É importante salientar aqui que eu mesma negligencio essa crise sanitária internacional pela qual passamos, mais especificamente até onde minha memória vai o negócio desandou mesmo pra mim quando precisei ir pra São Paulo. Já tinha saído de casa, entrado em um avião, mudado de cidade, e ia ter que ficar na rua mesmo, né? 

Algo a se recordar é o constrangimento inicial que existia ao mostrar na internet que estava "furando" a quarentena, ou muito antes disso quando as pessoas eram canceladas por isso (perfil vacilocovidbelem descanse em paz). Muita coisa mudou, mas considerando que os casos nunca diminuíram realmente e agora voltam a crescer rapidamente, um novo isolamento e novas ondas em diversos países estão à vista. Isso me faz pensar se esse constrangimento voltará em algum momento, se até mesmo será possível conter a população novamente dentro de casa sendo que hoje muitos de nós (mas não todos) já adentraram aglomerações e saíram "intactos", pensando à nível de Brasil principalmente. 

Parei de escrever por um segundo, abri o celular, o aplicativo do Instagram, rolei meu feed pela milésima vez, olhei a página do meu perfil, pensei alguma organização para as postagens que tenha uma composição de cores harmoniosa. Também abri o WhatsApp e vi que tinha uma nova notificação no grupo da família, o papai mandando algum vídeo. Ainda agora estava trocando mensagens com ele e me emocionei bastante com um áudio que de primeira ignorei, afinal todo dia meu pai manda inúmeras mensagens, correntes e informes no grupo. Mas ele mencionou novamente a mensagem escrevendo que era uma melodia que tinha gravado para não esquecer, como ele faz muitas vezes, e voltei para ouvir. Me emocionei. Meu pai cantava murmurando letra nenhuma enquanto dedilha o violão melodias que se modificam a todo momento de uma maneira um tanto quanto dramática mas também envolvente, alguns momentos tentei recordar se era parecido com alguma coisa que já tivesse visto pois parecia familiar mas nada veio em mente. Pensei 

"meu pai é tão precioso. um tesouro." 

porque é. 

Hoje pensei que talvez ele possa ser o Forrest Gump cabano. 

Voltando. O ponto é que tudo isso já tinha acontecido. Quando, depois de abrir o Instagram, fui para o WhatsApp e vi que meu pai tinha mandado um vídeo... tudo isso foi antes de eu abrir o celular, de novo. Abri agorinha também o  antes de começar a escrever esse parágrafo. O meu ponto sobre isso é como eu estou dispersa esses dias, de certa maneira até fugindo, vivendo anestesiada, da vida. Sobre como eu fiz uma análise sobre como a sociedade normalizou furar a pandemia ao invés de pensar em dissertar acerca minha cabeça estar uma loucura ultimamente a ponto de me pegar pensando se caso eu tomasse um cogumelo não pensar em nada poderia ser uma possível onda. Pois eu gostaria. Isso me fez pensar também que eu preciso ouvir mais músicas instrumentais e fazer um teste, afinal qual meu apego com músicas vocalizadas? Já existem vozes demais na minha cabeça. 

O ponto que eu queria dizer do meu pai ter mandado o vídeo é que isso me lembrou que eu tava falando com ele antes sobre a melodia e eu não respondi mais, e preciso responder. 

Outra coisa que tem feito eu me sentir bem atordoada também: celular, internet, redes sociais, Instagram, conversas, mensagens, notificações, relevância, pessoas desesperadas por engajamento. Me sinto exausta, me pego sonhando com o dia que eu vou deixar meu celular de lado, de preferência na comunidade onde minhas primas moram na Ilha do Marajó, e deixar de me sentir tão ansiosa sobre isso o tempo todo. Na minha cabeça essa cena foi um pouco mais teatral. Porém, por mais atordoada que eu me sinta sobre isso, abro o celular o tempo todo para rolar o feed e ver os ínfimas novidades que existem e, é claro, nenhuma é interessante pois já deixou de ser faz tempo mesmo. De que boca será que eu to tirando para alimentar esse hábito repetitivo e perturbador? 

Atualmente também sofro de problemas do coração e novas experiências, mas eu honestamente não sei por onde começar e com certeza não vou terminar. 

Estou no final do meu segundo semestre, faltando entregar dois dos seis trabalhos finais. Diferente do outro, que já não foi muito bom, nesse a maior parte do tempo eu nem lembrava que estava cursando universidade. Não assisti muitas aulas, não aprendi muita coisa. Me sinto mal, é óbvio. Mas, sinceramente, me sinto mal, também. Penso em, no próximo semestre, se for à distância, pegar só algumas disciplinas mas não toda a grade de aulas. De nada adianta passar em tudo se não consigo absorver nada. E é uma forma de não parar completamente também. Mas é isso, dois semestres universitários! E uma pandemia. hehe. 

To pensando em colocar um piercing no umbigo, refletindo sobre o da sobrancelha e querendo – mas só querendo – fazer alguma tatuagem. Sofri dois acidentes no último mês, totalizando três durante a pandemia, e só agora to voltando a andar de bicicleta ainda um pouco neurada de sofrer mais um acidente. Não sei se é energia negativa ou o fato de que eu realmente tenho me sentido muito distraída, dispersa, em outro lugar que não é exatamente lugar nenhum... isso não combina com o trânsito de Belém. Mas vou tomar um banho de folhas de toda forma.

Já tenho 22 anos! 

Vó Guiomar fez 89 anos dia 14 de Novembro.